Sou louca por São Paulo e mensalmente, quando visito esta metrópole procuro aproveitar ao máximo, pois não entendo pessoas que não vivem intensamente. Como diria o poeta:"A vida é uma só". Desta vez acabei caindo no MASP, onde está acontecendo uma mostra de esculturas chamada Obsessões da Forma. Já me meti em muita "roubada" pelo mundo à fora mas esta, em especial, me marcou positivamente. Por lá eu vi formas abstratas intrigantes, figuras em diversas cores e formas, nus artísticos de tirar o fôlego, casais materializados em situações prováveis e improváveis, animais vultosos, bustos imponentes, guerreiros lutando contra guerras e contradições... Enfim, fiquei emocionada! A estupenda bailarina de Degas, Rodin, Renoir, Breccheret , mas senti falta de Claudel – acho que que não tem nenhuma Camille Claudel no MASP. As esculturas estavam a poucos centímetros de minhas mãos e juro, poucas vezes me senti tão imensamente tentada a tocar aquilo que não deve ser tocado.
Aliás, segue uma dica: terça-feira é dia de visitação de escolas no MASP e me parece que na Pinacoteca também. "Fujam!”. Pimpolhos e arte geralmente não é uma boa combinação quando estamos em busca de ares tranqüilos e contemplativos. Os seguranças me confidenciaram que estava sendo um calvário contê-las.
Bom, sou grata por ter tido a oportunidade de conhecer a arte, história e a cultura de vários países e a diversidade sempre me emociona. Dei-me uns minutos de "vista panorâmica" pra tentar desvendar de onde vinham e de que épocas eram àquelas peças e, acreditem - fez um bem enorme "chutar" os países e épocas e acertar alguns deles. O que ratifica minha opinião de que nossa forma de nos apresentar socialmente é o que temos dentro da alma, o que me lembra à velha história do inconsciente coletivo, e confirmar silenciosamente que o bom e velho Jung sabe das coisas.
Mas voltemos a bailarina de Degas. Por alguns instantes tive a impressão que ela estava viva e que sairia dançando para surpresa de todos os presentes. E lá também estavam o visão do nu de Arabesque, o busto ( auto-retrato) em terracota do Brecheret que parecia ainda mais pulsante (aí foi difícil ter "catiguria" e não colocar as patinhas). Toquei. E fui tocada.
O casal de poloneses me pareceu desolado, como um pingente das minorias, hostilizadas pela visão nazista. São dois bronzes que parecem "carregar nas cotas o peso do mundo.
O italiano repassa todo orgulho de representar o seu país em uma guerra mundial - forte ágil e perigosamente patriota. As estátuas chinesas de mais de mil anos. Rodin, com seu estilo over batendo no limite do over. Vá lá você também , não sou crítica de arte mas vou pensar sempre que as obras mais expressivas vieram de Camille.
Finalizando, há muitos anos decidi que a vida oferece oportunidades mil para quem quer vivê-la e que no mundo fashion é preciso estar antenado a tudo. Quem não busca informação vai ficar sempre na mesmice mostrada pela TV aberta e revistas de fofocas, e vá lá, o Brasil é um país do tamanho de um continente, tantas miscigenações, tantas culturas diferentes e um mundo peculiar de contradições. E o planeta inteiro nunca foi tão pequeno.
O que está na moda em Praga não necessariamente vai "pegar" em qualquer outra cidade do mundo. Nunca consegui entender porque às vezes a moda demora tanto pra chegar aqui. Poderia citar mil exemplos de roupas que ficam pipocando meses, até mesmo anos na Santa Inconstância e de repente: BOOOMMMMM! É só o que elas querem e... Putz, onde encontrar onde anos depois?
Lembra-me Porto Alegre, quando morei por lá. Todas as meninas eram bronzeadas o ano inteiro elas usavam bolsas Victor Hugo, calças Fórum e Zoom e sapato para-raio. Toda a mulherada parece que ia e voltava de gramado, Disney, Punta, Bariloche, Miami (e fazendo questão de contar umas 1000 vezes ). E haja chapinhas no cabelo, claro que loiros! E, pesadelos, dos pesadelos das contestadoras, eu estudava Psicologia na PUC. Eu era castanha, crespa,com bolsa de crochet (sempre tendi a riponguice) e não trocando lugar nenhum pela Bahia. Que fique bem claro - ainda não troco!
Aproveito estas viagens para reciclagem e conhecer gente nova. Vocês já experimentaram ir a um boteco tradicional sem o intuito de ir embora montada em um cavalo branco e acordar com uma conta conjunta na mesinha de cabeceira?
E é assim que vem a inspiração, a Inconstância, a vontade de mudar sempre, a ojeriza à rotina,o repúdio a entediante normalidade. Procuro roupas e acessórios inovadores onde até o diabo duvida, mas vale a pena: cliente Santa Inconstância é reconhecida a léguas de distância.
E com o tempo se aprende o "estilo" de cada uma. Fiquei muitos anos trabalhado com moda maior e gestante, dois nichos fascinantes pelo desafio que representam, pois passando pela nossa loja - toda mulher ganha a exuberância! Questão de honra não "embagulhar" nossas clientes, afinal se ela estiver (momentaneamente feia, digamos assim), a principal culpada é a compradora, no início dessa cadeia de degradação. No caso eu já poderia ter cortado este ciclo abastecendo a loja com coisas legais e bombardeando as funcionárias de informação.
A partir de quinta (17 de março), depois de muito ouvir os apelos de amigas e clientes, posso anunciar que orgulhosamente estamos voltando operar na numeração à partir do 36. Em resumo: nossa moda irá dos tamanhos 36 ao 60, ainda com peças para gestantes, linha pré e pós- parto. A Santa Inconstância espera por você.